domingo, 14 de julho de 2013

OS REIS DO CURURU

No programa de hoje, me referi brevemente ao estilo cantado do médio Tietê denominado Cururu.

Morando em Piracicaba, não pude evitar, foi paixão ao primeiro toque.


De maneira simples, podemos definir o cururu como desafio cantado, praticado na região do Médio Tietê. No entanto, existem muitas definições mais completas e menos consensuais, que levam em conta algumas hipóteses para a origem da manifestação.

Para João Chiarini, o cururu é uma “competição popular, luta amistosa entre canturiões”. Ele discorda dos que definem o cururu como uma dança, em razão da pobreza coreográfica. Para Chiarini os cururueiros simplesmente rodavam, o que por si só, não caracterizaria uma dança. O cururu seria uma cantoria de origem luso-afro-indígena.

A corrente que crê que o cururu seja uma dança tem representantes de peso como Mário de Andrade, Antônio Candido, Alceu Maynard de Araújo e Câmara Cascudo. Mas mesmo entre eles não há consenso. Mário de Andrade, Alceu Maynard e Antônio Candido entendem que o cururu teve origem a partir da adaptação das danças cerimoniais indígenas, enquanto Câmara Cascudo fala em “invenção jesuítica para efeitos catequéticos”; daí seu caráter respeitoso, desprovido de intenções sexuais.

Se não há consenso, é certo, porém, que o cururu sofreu transformações e hoje é apenas um desafio entre cantadores, uma forma de repentismo caipira, em que, pelo menos desde a década de 1950, inexistem movimentos coreográficos.


O professor Alberto Ikeda elabora uma seqüência das transformações ocorridas na manifestação:

1) Danças cerimoniais indígenas;
2) reinterpretação das danças derimoniais indígenas
3)cururu-dança: dançado em roda, diante dos altares, com temática predominante religiosa e com canto improvisado (desafio implícito). Comum no ambiente rural;
4) cururu cantoria-de-improviso: adaptado ao ambiente urbano como espetáculo, sem dança, com temática profana (desafio explícito);
5) cururu-canção: gênero de canção sertaneja, com permanência apenas do ritmo tradicional.

Mas o que dizem os cantores remanescentes, os verdadeiros transmissores da tradição, sobre as origens do cururu? O canturião Abel Bueno, de Piracicaba afirmou:
            
Tem historiador que fala que o cururu é de Portugal. Eu falo que não porque se fosse, lá tinha cantador e lá não tem. O cururu foi criado aqui na Média Tietê, no triângulo Sorocaba, Piracicaba e Botucatu, incluindo as cidades aqui no ramal. Quando começaram a cantá o cururu foi na saída da bandera, quando criaro a bandera do Divino, em São Sebastião da Pedra Grande, que depois passo a chamá Capela de São Sebastião e hoje chama distrito de Laras, em Laranjal Paulista.

Outro veterano de cantoria, Horácio Neto, de 84 anos, me corrigiu quando falei em cururu dançado, mostrando uma concepção da coreografia mais próxima da de João Chiarini:

            Num é bem dança. É virano em roda.

Mais poética que todas as definições e teorias elaboradas pelos estudiosos é a origem mítica do cururu cantada de Pedro Chiquito na gravação “CururuAntigo”, lançada em disco de 78 rotações, no início da década de 1960.
            
            Me falô os antepassado
            De uma lenda que existiu:
            Santo Onofre e São Gonçalo
            Um dia esses dois reuniu.
            Da barba de São Gonçalo
            Retiraram 12 fio;
            Encordoaro na viola
            Com toêra e canotio.
            Desse dia por diante
            Foi que o cururu existiu.

Tão controversa quanto as origens da manifestação são as possíveis origens da sua denominação. Alceu Maynard cita Basílio de Magalhães que afirma ser cururu a palavra usada para dizer sapo, na língua indígena abanheenga. Segundo ele, a expressão “sapo cururu” é pleonasmo. Outra hipótese também aventava por Alceu Maynard é que cururu seja a corruptela, em língua tupi, da palavra “cruz”, que antigamente seria pronunciada “cruce” ou “curu” pelo catequisador.

O folclorista sorocabano Benê Cleto aceita a origem da denominação da manifestação folclórica na palavra “cururu”, como o sentido de sapo em nheengatu. O cantador Luizinho Rosa também vai no mesmo sentido:           

O cururu, ele vem mais o mêno de um histórico que é o nome antigo do sapo. Sapo, porque vem dos índio que dançava tudo pulano que nem sapo. Então surgiu essa lenda do cururu com o nome de sapo. Esse é o começo do cururu. (Fonte: AQUI)

Pesquisa e ediçao - Natalia Bruzzone
Sérgio Santa Rosa é jornalista e autor do livro “Prosa de Cantador”, à venda pelo site www.abacateiro.com

Sérgio Santa Rosa é jornalista e autor do livro “Prosa de Cantador”, à venda pelo site www.abacateiro.com

SAIBA MAIS SOBRE O CURURU AQUI

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